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Vestir-se é uma ação intrinsecamente ligada ao corpo, e que pode também estar relacionada a cosmovisões de mundo, culturas, contextos históricos e sociais, processos interculturais, condições climáticas, e às diferentes formas de embelezamento. Quando lidamos com os modos de vestir dos povos originários, essa compreensão se expande, incluindo as pinturas e incisões corporais e, em alguns casos, a transcendência do corpo por meio de contextos rituais, histórias míticas e espiritualidade.

O acesso às informações acerca das muitas histórias do vestir das populações indígenas apresenta alguns desafios. Estes vão desde as limitadas evidências de materiais têxteis encontradas em sítios arqueológicos até o processo de apagamento de suas culturas pela experiência da colonização europeia iniciada no século XV, o que marcou profundamente a história de Abya Yala (América) e Pindorama (Brasil).


Acompanhando o movimento mundial pela decolonialidade, esta exposição digital tem como tema principal alguns dos vestires tradicionais das mulheres Inỹ Karajá. Este povo é composto por habitantes imemoriais das margens do Rio Araguaia, e sua população aldeada está distribuída atualmente em 27 aldeias¹ que se estendem pelos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará; somam-se em torno de 4 mil pessoas. Sua vasta produção material inclui a produção de cestarias, adornos, plumárias, vestimentas, as conhecidas bonecas de cerâmica ritxòkò (registradas como Patrimônio Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), técnicas de construção de casas, entre outros.

 

As mulheres Inỹ Karajá são o esteio da língua materna inỹrybè e detentoras da memória genealógica, da mitologia e das práticas convencionais.² Destacar alguns de seus vestires tradicionais é conhecer suas dinâmicas sociais, seus costumes, sua manufatura e seu saber-fazer, colaborando para a produção das histórias plurais do vestir no Brasil.

A concepção da exposição se deu de forma colaborativa entre indígenas e não indígenas. A curadoria foi feita pelos olhares cuidadosos de Waxiaki Karajá e Tuinaki Koixaru Karajá — selecionando objetos musealizados do acervo do Museu Goiano Professor Zoroastro Artiaga, o primeiro museu da cidade de Goiânia, Goiás³ — e contou com a colaboração do diretor da instituição Giulliano Santos Ramos e da funcionária Vânia Xavier Lima.

O formato digital foi escolhido para ampliar o acesso, e atrair muitos dos Inỹ Karajá, que podem conhecer a exposição, sem o deslocamento desde as aldeias por meio de seus celulares, tão amplamente usados. O texto de apresentação pode ser lido na língua inỹrybè, cuja tradução foi feita por Sinvaldo Oliveira (Wahuka); além da língua portuguesa, revisada por Mariana Brito.

Os registros fotográficos e vídeos foram produzidos por Hawalari Coxini, Rafaella S. Coxini Karajá e Juanahu Inỹ. Há, ainda, um recurso que poderá alcançar o público deficiente visual e cego que se trata de relatos gravados em áudio sobre saber-fazer dos objetos e seu contexto de uso. Para que os visitantes possam interagir de um modo diferente com a temática da exposição, houve também o desenvolvimento de jogos pela Bárbara Freire e Vitória Avelar.

A identidade visual foi criativamente pensada e criada por Bel Lavratti, profissional e colaboradora de outros projetos que envolvem o povo Inỹ. A direção da exposição foi feita pela designer de moda e museóloga Bárbara Freire, com a coordenação geral de Indyanelle Marçal, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, e da profa. Rita Morais de Andrade, Professora Associada dessa mesma universidade. O nome da exposição, “Ixitkydkỹ: um olhar sobre os vestires tradicionais das mulheres Inỹ Karajá”, foi escolhido em conjunto com as curadoras. Para destacar a língua materna desse povo, a palavra ixitkydkỹ, que significa “vestir”, abre o título.

Esta exposição digital, juntamente ao curso de formação na modalidade EaD “Vestires plurais das mulheres Inỹ Karajá”, ofertado em julho e agosto/2022, integra o projeto promovido pelo Grupo de Pesquisa INDUMENTA: dress and textiles studies in Brazil4 (@indumenta.br), com patrocínio do edital RE-FARM CRIA 2022, oferecido pelo Instituto Precisa Ser e a marca FARM.

¹ Com base em consultas realizadas pelo Projeto Presença Karajá: cultura material, tramas e trânsitoscoloniais, os dados de 2020 do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) informam a existência de27 aldeias Inỹ Karajá.

² Ver: NUNES, Eduardo Soares. Transformações Karajá: os “antigos” e o pessoal de “hoje” no mundo dos brancos, 2016, 609 f. Tese (Doutorado em Antropologia) ― Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, 2016.

³ Fundado, em 1946, por meio do Decreto Lei no 383 de 6 de fevereiro de 1946.

4 Originado na Universidade Federal de Goiás e certificado pelo CNPq em 2016.

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